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Reflexões sobre Superstição e Razão

Mário Parra da Silva, 33º
Grão Mestre
Grande Loja Tradicional de Portugal

Meus Irmãos e Irmãs:

Para além das palavras que a ocasião exige, senti necessidade de vos colocar algumas reflexões que me parecem oportunas sobre superstição e razão.

De várias formas se está a manifestar no mundo profano um retorno ao Religioso, visível até na profusão de livros sobre Deus e a intensa especulação à volta de temas Bíblicos.

No mundo profano é óbvia a crescente procura de soluções de culto, muitas vezes fora das Igrejas constituídas. Isso abre um vasto campo de acção para todo o tipo de charlatães e de vendedores de energias e curas a curto prazo e baixo preço. É a proliferação das “religiões low cost”. É a velha superstição, é a crendice simplex que sempre existiu e que provavelmente sempre existirá nos ignorantes que julgam saber “o segredo”. Além do mercado das “curas” esta multidão de falsários está progressivamente a elaborar uma teoria social baseada no mundo florestal dos contos de fadas, na suposta vida idílica dos índios, no irracionalismo indutivo, na descoberta de conspirações, em “grandiosas descobertas científicas” que só o são no programa de televisão, no filme de aventuras ou no último sucesso dos escaparates dos supermercados.

A maçonaria sempre combateu a superstição porque ela abre a porta a todo o género de falsificações, geralmente iniciando-se em ridículas manipulações de baixa feitiçaria mas podendo terminar em altíssimos níveis de malignidade. Poucos hoje têm consciência da forma grotesca e ridícula que revestiu o nazismo nos seus primeiros anos. Não era mais que uma forma alternativa de descrever o mundo e a história, uma forma desprezível de ressuscitar velhos deuses e demónios germânicos, liquidar a civilização judaico cristã e recolocar no Olimpo Odín e os deuses da suástica ariana. Mas todos sabemos como terminou.

A superstição, implícita nas seitas que levam as pessoas a negar a realidade substituindo-a por versões simplificadas e de fácil consumo em que tudo fica explicado e justificado, abre a porta à criação de identidades alternativas pela integração em grupos que criam sistemas racionais nessa meta-realidade embora totalmente irracionais no mundo real. É o efeito Matrix. Ou o encanto do revivalismo pagão travestido de filosofia clássica. O perigo destas superstições é que são um caminho fácil e de resultados rápidos, que só mais tarde se revelam ilusões e falsidades.

A maçonaria é um caminho difícil e de resultados a médio e longo prazo. A fraternidade maçónica e a sua correspondente democracia profana não são valores instintivos no ser humano. Pelo contrário. Por isso se previne o Aprendiz de que vem para combater as paixões que aviltam o Homem.

A paixão mais básica é o instinto de sobrevivência que se manifesta tanto no indivíduo como nas comunidades e nas nações. Perante os seus impulsos só o Amor e o Dever resistem porque só o Amor e o Dever colocam o bem dos outros acima do próprio.

Os impulsos do instinto de sobrevivência crescem quando existe a percepção de ameaça iminente. O indivíduo procura o que julga ser o seu semelhante, identifica-se e integra-se. No passo seguinte coloca essa identidade acima da Tolerância. A identidade particular produz superstições sociais como a mania da perseguição e a suposta maldade do Outro.

A tudo isto a GLTP opõe duas barreiras que são um Caminho: A Identidade Universal da Pessoa Humana e a Razão.
O Maçon é uma Pessoa que pela Iniciação se tornou Universal.
Claro que cada um de nós tem outras ligações civis ou religiosas. A nenhum se pede que deixe ou atraiçoe a sua fé ou as suas outras lealdades e deveres. Mas a todos que querem ser maçons se pede que jamais coloquem o seu grupo, ou seja as suas particulares identidades acima da Identidade Humana.

Permitam-me que cite Manuel Bernardes, Padre da Igreja Católica:
Qualquer homem tem três pátrias: uma da origem, outra da natureza e outra do direito. A pátria da origem é aquela em que os nossos maiores foram e viveram; a da natureza é a terra ou lugar onde cada um nasce; a do direito é onde cada um é naturalizado pelas leis ou príncipes, e onde serve, e merece, e costuma habitar: (…)
Quanto à pátria da origem, todos os homens somos do Céu, porque ali está, vive e reina o nosso pai celestial, que vai criando as almas e unindo-as a nossos corpos.
Quanto à segunda pátria, falando geralmente, todos somos filhos da Terra; por isso dela falamos tão frequentemente. Neste sentido todos os filhos de Adão são compatriotas, sem diferença do rei ao rústico(…)
Temos exemplo em Sócrates, que, perguntado donde era, respondeu:
– Do mundo: porque de todo o mundo sou cidadão e habitante.
E em Séneca, que disse:
– Não encerramos a grandeza do ânimo nos muros de uma cidade, antes o deixamos livre para o comércio de todo o mundo, porque esta é a pátria que professamos, para darmos campo mais largo à virtude.
O universalismo maçónico tem raízes na filosofia greco-romana e é partilhada por todas as grandes religiões que proclamam o Deus Único, Grande Arquitecto do Universo. Para os teístas o universalismo maçónico funda-se na “primeira pátria” a do Criador, Grande Arquitecto, para outros funda-se na “segunda pátria” a da Terra, a casa comum da Humanidade.

Mas toda a maçonaria, independentemente do fundamento que escolheu, utiliza a Razão como método de acesso e desenvolvimento progressivo a níveis superiores de conhecimento.

Porque somos dotados de Razão, temos a possibilidade e a obrigação de a usar para descobrir as leis da Natureza, para escolher as leis de governo dos Povos e Nações.

Mas a Razão também deve guiar-nos na escolha da nossa via para maior compreensão do Divino e do transcendente.

A maçonaria ensina-nos que a Razão do indivíduo solitário opera sobre as informações que ele possui e de acordo com os seus preconceitos. É portanto falível. A razão deve exercitar-se no diálogo e deve ser guiada pela Sabedoria e pela Tradição. Solitário .'. fraterno com os II cada um recomeça um viagem no escuro, em Loja cada um parte do nível a que os anteriores chegaram. A disciplina do método maçónico auxilia a nossa razão a encontrar respostas porque é ajudada pela razão colectiva.

Como maçons é nossa missão combater a superstição e submeter ao exame da razão as ideias que nos sejam propostas. Não há nisso nenhuma desvalorização da fé. Mas há a firme determinação de não aceitar ditames supersticiosos que contrariem as evidências da razão, por mais que nos sejam apresentados como matéria de fé.
Como maçons é nossa missão combater a superstição e submeter ao exame da razão as ideias que nos sejam propostas. Não há nisso nenhuma desvalorização da fé.
Por estranho que possa parecer, uma vez que somos uma Grande Loja Teísta, considero que pode haver mais virtude num tolerante céptico, agnóstico ou ateu do que num supersticioso adepto de crendices sem base racional. É mais provável que o agnóstico e o ateu sejam tolerantes e valorizem a Identidade Universal do que o supersticioso aceite que outros tenham outras verdades. Claro que podemos também ter que enfrentar a pior versão que é a do ateu supersticioso ou seja os que intolerantemente defendem a unicidade da sua verdade. Não é certamente o caso do filosofo agnóstico Jürgen Habermas, para quem, e passo a citar, "a garantia de liberdades éticas iguais exige a secularização do poder do Estado, mas proíbe a universalização política da concepção secularista do mundo. Os cidadãos secularizados, na assunção do seu papel de cidadãos, não devem negar liminarmente um potencial de verdade às concepções religiosas nem pôr em causa o direito de os concidadãos crentes oferecerem contributos, em linguagem religiosa, para as discussões públicas".

Defendo firmemente a valorização do papel social das religiões, defendo a presença activa das religiões na sociedade, defendo a dignidade da confissão religiosa, defendo o direito das Igrejas a participar nos assuntos e debates que se desenrolem na sociedade e o direito de tentarem influenciar a opinião dos seus seguidores. Mas também defendo com igual firmeza a dignidade da opção agnóstica ou ateia e a honestidade intelectual dos que se interrogam e não encontrando resposta no plano religioso prosseguem a sua busca no plano filosófico. É essencial que se compreenda que a Laicidade do Estado é uma condição essencial à Liberdade Religiosa e que esta é também a liberdade de não ter qualquer opção religiosa.

No combate à superstição e às identidades de seita, as Pessoas que utilizam a Razão para compreender a Fé e as Pessoas que utilizam a Razão para compreender a Humanidade estarão do mesmo lado. O inimigo comum é o velho monstro que se esconde nas florestas da ignorância e do medo, sedento de riqueza e domínio, mas sempre disfarçado com trajes de sedução, prazer e facilidade.

Permitam-me que manifeste a minha maior homenagem àqueles que acreditam na pureza e justeza das nossas opções. Não poderei nomeá-los porque são muitos e estão aqui suportando o fardo dos seus encargos na GLTP. Poderei apenas dizer-vos que nunca um Grão Mestre teve Irmãs e Irmãos melhores e mais dedicados, capazes durante anos seguidos de assumir um trabalho árduo, diário, constante, fiel, entusiasmado, persistente e eficaz.

Graças a eles hoje consagrámos a nossa Sétima Loja, Acácia, a Loja de uma Grande Loja que chegou ao seu 3º Grau.

Aos Irmãos e Irmãs que com a sua Sabedoria, Força e Beleza estão a construir a GLTP só posso retribuir com a minha própria fidelidade ao projecto. Por isso vos recordo que acreditamos que somos uma Jurisdição, ou seja é a Lei que nos governa, não o Grão-Mestre. Somos um Grande Loja de Pessoas porque só a Identidade Universal nos une.

Trabalhamos com a Razão porque só ela gera conhecimento e nos defende da loucura da ignorância. Acreditamos na GLTP porque sabemos o quanto o mundo precisa de quem lhe diga estas coisas e de quem se bata pela Justiça, pela Liberdade, pela Igualdade, pela Diversidade, pela Fraternidade e pelo Amor.

Bem Hajam.

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